... em que pagava de bom grado uma pequena quantia para voltar àquele café, estar uma tarde inteira à conversa com o meu antigo professor Guapo. Pegar no jornal e fazer as palavras cruzadas com a V.
Olhar de 5 em 5 minutos para a porta à espera que ele entrasse.
Todos os minutos valiam para pena, todas horas compensavam se ele me desse um sorriso que fosse.
Não quero voltar para trás, olho apenas com nostalgia.
Eram dias agradáveis, de sol, mesmo quando a chuva caía.
Tenho saudades dele, naquele tempo, apesar de nada fazer sentido. Tenho saudades da V, naquele tempo, em que olhava para ela e sabia que ela me entendia, mesmo quando eu não dizia uma palavra.
Tenho saudades do professor Guapo, que me lia com os olhos, assustadoramente reveladores.
Ainda me lembro do peso das colunas, quando as tirava para o pátio da escola, para dar música a quem quizesse ouvir.
Lembro-me de ter saído da aula de francês com pressa, ser a primeira a pisar o chão fora da sala, ter caído de cu, pois o chão estava molhado.
Ainda me lembro do R. me estender a mão para eu me levantar.
Recordo-me dos cigarros guardados no estojo, entre canetas e lápis. De uma ou outra vez que alguém me escreveu palavras neles. De estar sentada nas escadas de pedra, entre risos e correrias.. A ver casais de mãos dadas, grupos de amigos, professores à conversa. Eu ficava ali, minutos e minutos sentada, sem falar, apenas a ver.
Escondia os braços nas mangas pretas e compridas, enquanto outras os mostravam como se medalhas de honra se tratassem. Nunca as compreendi.
Lembro-me de subir a parade de olhos vendados, sem medos. De escorregar e sentir-me a cair no vazio e rapidamente de me sentir segura novamente.
Lembro-me do RD mostrar as veias das pernas e de dizer que todas as manhãs comia Nestum.
(as coisas que eu me lembro)...
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